“Vergílio Ferreira - Maria Lúcia dal Farra. Correspondência” apresentado na UÉ

Foi apresentado ontem, dia 14 de maio na Universidade de Évora (UÉ), o livro “Vergílio Ferreira -  Maria Lúcia dal Farra. Correspondência”, na presença da escritora brasileira distinguida com o Prémio Jabuti, um dos mais relevantes prémios literários do Brasil, instituído em 1959.

Organizado por Elisa Nunes Esteves, professora do Departamento de Linguística e Literaturas da UÉ, e João Tiago Lima, professor do Departamento de Filosofia da mesma Universidade, a obra foi realizada no âmbito das atividades do grupo de trabalho «Vergílio Ferreira», constituído na sequência do Colóquio Comemorativo do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira, “insigne e plurifacetado escritor, reconhecidamente marcante no panorama intelectual do Século XX e cuja obra urge reler”, realizado na UÉ, “faz agora três anos” sublinhou João Tiago Lima.  Foi precisamente em 2016, que Maria Lúcia Dal Farra ofereceu este “precioso espólio” composto por várias dezenas de cartas trocadas com o escritor português, conta Elisa Nunes Esteves, o que veio permitir “publicar este  diário epistolar entre os dois autores de língua portuguesa”, acrescentando que está prevista, ainda sem data marcada, uma exposição com a correspondência trocada pelos escritores, e outros materiais referentes ao escritor, autor de “Aparição”.

O livro é constituído por sessenta e três cartas trocadas durante cerca de quinze anos, entre outubro de 1968 a janeiro de 1983, na sua maioria manuscritos. Ana Luísa Vilela, professora do Departamento de Linguística e Literaturas da UÉ, cuja apresentação ficou a cargo, destacou que Maria Lúcia dal Farra, tinha apenas 24 anos de idade quando escreve a primeira carta ao escritor português, “tem ele 52 anos de idade”. Mas desengane-se se pensa que a escritora obteve resposta imediata, Maria Dal Farra, teve que esperar cerca de um ano para que “Vergílio dignar-se a responder” sublinhou com humor Ana Luísa Vilela. Retomada a correspondência, conheceram-se pessoalmente em Lisboa, “dois ou três anos depois da primeira carta”, tornando-se amigos, passando nessa altura a “tratar-se por Tu”.

Colocar em livro centenas de cartas e decifrar a letra dos dois correspondentes “não foi tarefa fácil”, salienta Ana Luísa Vilela enquanto procurar afirmação no olhar dos colegas e organizadores da publicação, aliás, a letra é já “uma queixa reciproca”. “Vergílio Ferreira apresenta uma letra "miudinha, poupadinha, rápida em correria com a sombra” alude Ana Luísa Vilela, já o escritor protesta muitas vezes com a letra de Maria Dal Farra, considerando-a “hieroglífica”, consideração que podemos encontramos em post scriptum na carta n.º 21, pág 54, quando este observa, “Vê se tiras um curso de caligrafia, porque estás hieroglífica”.

Vergílio Ferreira era "desconfiado, como se maltratado por alguma coisa que presentia nas pessoas sem poder localizar, e daí que, por vezes, fosse cáustico. Parecia ter uma mágoa profunda dos seus pares quanto à imcompreensão da sua obra" recorda Dal Farra sobre o escritor que a conduzio "a todo o universo neo-realista".   

Publicado em 15.05.2019
Fonte: GabCom | UÉ