Resumo:
A teoria das representações sociais de Serge Moscovici tem sido amplamente utilizada na investigação de práticas sociais por diversas disciplinas, tais como Psicologia, Geografia, História, Educação, Antropologia, Sociologia e Medicina.

As representações sociais consistem em um conjunto de valores, ideias e práticas que possibilitam às pessoas orientarem-se em seu mundo material e social e controlá-lo, bem como se comunicarem na medida em que fornece aos membros de determinada comunidade um conjunto de códigos que permitem classificar e nomear os vários aspectos da realidade individual e coletiva. Por essa razão, esse fenomeno, ao mesmo tempo social e individual, tem sido objeto de investigação em diversos contextos sociais.

Na conferência serão apresentadas e comentadas brevemente três investigações desenvolvidas sob o aporte da teoria das representações sociais no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, localizada na região sul do Brasil. Os trabalhos foram desenvolvidos por diferentes equipes compostas por psicólogos, agronomos, químicos, e dentistas, em três municípios localizados na região sudoeste do estado do Paraná, todos com suas economias fortemente atreladas à agricultura.

A primeira investigação que será comentada teve por objetivo analisar as representações sociais de meio ambiente de professores e compará-las com suas representações e práticas pedagógicas em Educação Ambiental. Os sujeitos foram 24 docentes de ambos os sexos e de diferentes disciplinas de uma escola de ensino médio. Os resultados dessa investigação permitiram concluir que há coerência entre o modo como os docentes representam o meio ambiente e a educação ambiental e as respectivas práticas pedagógicas desenvolvidas. Práticas, contudo, que tratam os acontecimentos da realidade social de forma fragmentada e desvinculada das experiências significativas dos educandos; uma prática que dá pouco valor aos aspectos culturais, sociais, políticos e económicos envolvidos no modo como o ambiente tem sido pensado e utilizado e que a degradação ambiental é menos uma questão de consciência do que uma questão política económica e, por isso mesmo, social.

A segunda investigação consistiu na identificação das representações sociais de saúde bucal em usuários do serviço público de saúde em uma pequena cidade, cuja economia está fortemente atrelada à agricultura. As representações sociais de saúde bucal dos sujeitos investigados podem ser formuladas como o “não sentir dor”. Ou seja, uma representação que se enquadra na concepção de doença como ocupação, como a define Claudine Herzlich, isto é, quando a pessoa sente que pode lutar contra a doença, que é possível tratá-la, que não é destrutiva embora temida pela dor, e sempre aceita pelo grupo social investigado.

Finalmente, a terceira investigação teve por objectivo analisar as relações existentes entre representações sociais de gestores e profissionais de saúde sobre saúde mental e suas práticas profissionais no serviço de saúde pública de um pequeno município de cerca de 8 habitantes. Buscou-se ainda verificar quais políticas públicas direccionam as práticas profissionais no serviço local, assim como conhecer o itinerário terapêutico dos usuários do sistema público local que necessitam de assistência em saúde mental. Os resultados indicam a presença de duas representações sociais de saúde mental no serviço local de saúde, as quais correspondem dois modelos de actuação que sustentam as práticas profissionais locais.

Essas três investigações, para além do referencial teórico metodológico, têm em comum o fato de que suas conclusões têm propiciado acções nos serviços de educação e de saúde dos municípios onde foram realizadas no sentido da formação continuada dos profissionais. No caso dos professores busca-se discutir a temática ambiental não apenas focada nos aspectos de degradação e conservação, mas, sobretudo, nos seus determinantes políticos, economicos, históricos e culturais. No que concerne à saúde bucal e saúde mental, têm sido tomadas atitudes nos serviços de saúde locais no sentido da formação de gestores e profissionais para levarem em conta que a questão da saúde, seja ela em geral, bucal ou psíquica, é tão porosa e multifacetada que se torna impossível a realização de um único atendimento em saúde que não envolva questões relacionadas à subjetividade e ao bem-estar.